SETEMBRO AMARELO: Um mês para falar de Vida

Por Cristiane Borges
Ao longo da vida, todos nós fazemos escolhas — algumas grandes, como mudar de emprego ou encerrar um relacionamento, e outras pequenas, como cuidar da alimentação, manter uma rotina de sono ou simplesmente dedicar tempo a conversar com alguém próximo. Essas decisões, ainda que pareçam simples, influenciam diretamente nossa saúde mental.
Quando negligenciamos nossas necessidades emocionais, acumulamos pressões e deixamos de buscar apoio, corremos o risco de desenvolver problemas como ansiedade, depressão e outros transtornos que, se não tratados, podem levar a situações graves. Compreender e lidar com o peso dessas escolhas nem sempre é simples.
A culpa pelo que fizemos ou deixamos de fazer pode gerar dores profundas e, muitas vezes, adoecer nossa mente. É nesse ponto que precisamos falar sobre saúde mental, acolhimento e prevenção ao suicídio.
Cuidar de si, estabelecer limites, pedir ajuda quando necessário e oferecer escuta às pessoas ao nosso redor são atitudes que fortalecem o bem-estar e podem salvar vidas.
A ORIGEM DO SETEMBRO AMARELO
É dentro desse contexto que surge o Setembro Amarelo, mês dedicado à conscientização sobre a prevenção do suicídio. Poucos sabem que a campanha nasceu da história de Michael “Mike” Emme, um jovem norte-americano de apenas 17 anos, conhecido por seu espírito solidário e por gostar de restaurar carros. Em 1994, ele tirou a própria vida dentro de seu Mustang 1968 amarelo, veículo que ele mesmo havia restaurado.
Durante o funeral, familiares e amigos decidiram transformar a dor em um gesto de esperança. Distribuíram cartões e fitas amarelas com a mensagem: “Se você estiver em sofrimento, peça ajuda”. Esse simples ato desencadeou uma rede de solidariedade: os cartões começaram a circular entre jovens, levando apoio e encorajamento a quem enfrentava momentos de desespero. Foi assim que nasceu o movimento da Fita Amarela, que mais tarde inspirou campanhas de prevenção ao suicídio em todo o mundo.
Em 2003, a Organização Mundial da Saúde (OMS), em parceria com a Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (IASP), instituiu o dia 10 de setembro como Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. No Brasil, o Setembro Amarelo foi oficializado em 2015 pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM).
POR QUE FALAR SOBRE SUICÍDIO É ESSENCIAL
Estudos indicam que até 90% dos casos de suicídio poderiam ser prevenidos com acolhimento adequado, tratamento em saúde mental e redes de apoio fortalecidas. Por isso, o Setembro Amarelo não é apenas um mês de conscientização, mas um convite a quebrar o silêncio, reduzir o estigma e mostrar que pedir ajuda é um ato de coragem.
Ainda assim, o tema continua cercado de tabus. Muitos acreditam que discutir o suicídio pode incentivar pensamentos ou comportamentos em pessoas vulneráveis. A realidade, porém, é outra: abrir espaço para o diálogo é uma das formas mais eficazes de prevenção. A depressão e outros transtornos mentais são condições de saúde que exigem atenção, compreensão e tratamento adequados — e não silêncio.
Ao quebrarmos o estigma, damos às pessoas a chance de buscar ajuda sem medo de julgamento. Mais do que lembrar as perdas, o Setembro Amarelo nos convida a cultivar empatia, escuta e acolhimento. Falar sobre suicídio não promove o desejo de morrer — promove o desejo de viver.
COMO IDENTIFICAR SINAIS DE SOFRIMENTO PSICOLÓGICO
Alguns comportamentos podem indicar que alguém está enfrentando sofrimento emocional ou psicológico intenso. Fique atento a sinais como:
- Isolamento social ou afastamento de atividades que antes eram prazerosas;
- Mudanças bruscas de humor, irritabilidade ou apatia;
- Falta de cuidado com a própria higiene ou aparência;
- Fala sobre sentir-se inútil, sem esperança ou querer “sumir”;
- Alterações no sono ou apetite.
COMO OFERECER APOIO A ALGUÉM EM SOFRIMENTO
Oferecer apoio pode fazer toda a diferença na vida de quem sofre. Algumas atitudes importantes são:
- Escutar sem julgar – muitas vezes, a pessoa precisa apenas ser ouvida com atenção e empatia;
- Demonstrar cuidado e presença – pequenas ações, como perguntar “como você está?” de verdade, podem fortalecer a rede de apoio;
- Evitar minimizar sentimentos – frases como “isso não é nada” podem aumentar o isolamento emocional;
- Incentivar ajuda profissional – psicólogos, psiquiatras e centros de atenção psicossocial (CAPS) oferecem tratamento adequado.
VAMOS JUNTOS PROMOVER À ESPERANÇA
O Setembro Amarelo nos lembra que todos podemos ser agentes de cuidado. Uma palavra amiga, um gesto de escuta ou o incentivo para buscar ajuda podem salvar vidas. Que neste mês — e em todos os outros — possamos estar atentos às pessoas ao nosso redor, conversar sem medo, oferecer apoio e valorizar a vida.
FALAR É CORAGEM. ESCUTAR É CUIDADO. APOIAR É AMOR. E CADA ATITUDE CONTA PARA TRANSFORMAR DOR EM ESPERANÇA.

Gestora pública, ex-secretária de Assistência Social e de Saúde em São Mateus. Líder cristã há 14 anos, palestrante de casais, estudante de Psicologia e pesquisadora em saúde mental. Atua com psicoterapia social no CAPS.