Reflexões sobre a Inércia Juvenil: A Ascensão da Geração ‘Nem Nem’ no Brasil

Reflexões sobre a Inércia Juvenil: A Ascensão da Geração ‘Nem Nem’ no Brasil

Por Arnóbio Manso Paganotto

Após acompanhar uma reportagem na TV local sobre a crescente geração “nem nem”, senti a necessidade de aprofundar o tema. Esse termo se refere aos jovens que nem estudam, nem trabalham, e um recente estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aponta que esse grupo está aumentando exponencialmente.

Segundo a pesquisa, 36% dos jovens brasileiros entre 18 e 34 anos fazem parte dessa geração. Mais alarmante ainda é o fato de o Brasil ocupar o segundo lugar entre os 37 países analisados com a maior proporção de jovens nessa situação.

Conforme destacado na reportagem pela executiva de Recursos Humanos, Luciana Lessa, essa situação apresenta dois desafios significativos. O primeiro diz respeito à geração mais velha, repleta de experiência, mas já não mais jovem. O segundo desafio está na geração mais jovem, que, sem experiência de trabalho e muitas vezes sem desejo de prosseguir com os estudos, encontra-se em uma encruzilhada.

Luciana pontua que a geração “nem nem” abrange tanto os jovens de classes mais altas quanto de classes mais baixas. Enquanto alguns de origem mais abastada optam por viajar e explorar o mundo antes de decidir por uma carreira, aqueles de famílias de baixa renda muitas vezes lutam para ingressar no mercado de trabalho devido à falta de experiência ou falta de vontade de iniciar uma carreira.

Para enfrentar esse problema, a executiva acredita que uma parceria público-privada poderia ser a chave. Empresas e governos precisam unir forças para oferecer iniciativas que integrem esses jovens à força de trabalho. Além disso, a educação familiar é fundamental, devendo proporcionar aos jovens um entendimento precoce sobre a vida profissional.

Essa tendência representa um desafio tanto para o Brasil quanto para as empresas, pois é necessário acomodar quatro gerações no mercado de trabalho, cada uma com um perfil diferente. A complexidade deve aumentar ainda mais com a chegada da Geração Alfa, intensificando a diversidade de gerações no ambiente profissional.

No entanto, como autor desta matéria, percebo que o aumento da geração “nem nem” no Brasil não pode ser dissociado do papel das mídias sociais na vida dos jovens atualmente. As redes sociais, com seu constante bombardeio de histórias de sucesso e riqueza fácil, têm contribuído para a criação de uma ilusão que atrai muitos jovens.

UNessa ilusão digital, o sucesso é frequentemente retratado como algo alcançado da noite para o dia, sem muita luta ou esforço. A ideia de que todos podem se tornar famosos, ganhar dinheiro fácil ou virar um “influencer” acaba alimentando uma mentalidade de imediatismo e desvalorização do trabalho árduo e consistente.

Muitos jovens, ao se depararem com esses “modelos de sucesso”, sentem-se desmotivados a trilhar o mesmo caminho de seus pais, que geralmente envolve longos anos de dedicação e trabalho duro. Com essa mentalidade, acabam se acomodando e vivendo à sombra dos pais, entrando para a estatística da geração “nem nem”.

É necessário reconhecer o impacto dessas plataformas digitais na formação da mentalidade dos jovens e buscar maneiras de incentivar valores como a resiliência, a persistência e a valorização do esforço e do trabalho árduo. Só assim poderemos prepará-los para enfrentar os desafios do mercado de trabalho e contrapor a ideia do sucesso fácil e imediato que é frequentemente vendida nas redes sociais.

Os jovens precisam compreender que, apesar de algumas histórias de sucesso instantâneo, a maioria das pessoas bem-sucedidas alcançou suas conquistas através de muito esforço, paciência e persistência. Este é o caminho que precisamos ensinar e valorizar, para que a próxima geração esteja preparada para enfrentar os desafios e incertezas que a vida certamente trará.

Investir em políticas e programas que facilitem a inserção dos jovens no mercado de trabalho e que valorizem o potencial de todas as gerações é fundamental para enfrentarmos esse cenário desafiador. Somente assim poderemos moldar um futuro mais promissor para os jovens do Brasil.