Apagão na Europa: ambientalismo, alto consumo e baixa produção de energia

Apagão na Europa: ambientalismo, alto consumo e baixa produção de energia

Um blecaute massivo atingiu Portugal, Espanha e partes da França e da Alemanha nesta segunda-feira de abril. Houve relatos de instabilidade elétrica também em países como Itália e Holanda. Por consequência, a Europa viveu momentos de tensão, confusão e temor, com prejuízos em bilhões de euros. De repente, grande parte do continente se viu numa situação pré-industrial, ensejando a incontornável pergunta: como isso aconteceu?

Opiniões européias e mundiais dividiram-se sobre as causas do apagão. Alguns consideraram ter sido um ciberataque de hackers. Outros afirmaram que houve um incêndio na França que comprometeu uma linha de alta voltagem. Meteorologistas comentaram de um fenômeno atmosférico raro que causou uma sobrecarga. Teóricos especularam que os “líderes globais” teriam puxado a energia da tomada, somente para gerar caos e acelerar a dependência das autoridades.

Nenhuma dessas explicações, no entanto, abordaram a causa mais plausível: a produção e o consumo de eletricidade na Europa formam uma conta que não fecha. A Europa optou de forma desmesurada por fontes de energia elétrica limpas e renováveis. É o caso da solar e da eólica. Essas fontes parecem incapazes de fornecer toda a energia atualmente exigida pela Europa, que está obcecada por carros elétricos. Apesar de rara em jornais ocidentais, essa constatação é freqüente em publicações como o jornal estatal russo Pravda.

A situação da Alemanha é emblemática disso. Desde a quarentena, o país resolveu desativar os geradores nucleares e de carvão, suas fontes de energia mais robustas. No lugar, seguiram de forma intransigente as orientações da ESG e do ambientalismo. Deram total preferência fontes de energia sustentáveis e limpas, como gás. Além disso, obrigaram fabricantes como Mercedez Benz, Audi, Porsche, BMW e Volkswagen a produzirem cada vez mais carros elétricos.

Como resultado, a Alemanha sobrecarregou seu consumo elétrico. A frota de carros causa picos de consumo em períodos como as férias, quando as pessoas usam dos veículos para passear e viajar. Ademais, as opções para produção de energia elétrica tornaram o país vulnerável. Sua principal fonte de gás é a Rússia, país cujo fornecimento pode oscilar devido à guerra na Ucrânia. Para piorar, os alemães se alinharam aos ucranianos, entrando em atrito com os russos.

A Espanha passa por situação parecida. Neste ano de 2025, o governo espanhol declarou que a matriz elétrica da Espanha era 100% de energia renovável. Segundo o anúncio, energia solar agora cobre 78.6% da demanda e 61.5% do total da energia ali produzida. O anúncio veio duas semanas antes do blecaute. Tudo indica que o teste de sucesso dessa matriz energética sustentável veio com a recente sobrecarga que gerou o blecaute. Pelo visto, o resultado do teste foi negativo.

Dessa forma, o apagão na Europa não é muito diferente do apagão ocorrido no Brasil durante o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso. Naquela época, o verão causava picos de consumo que superavam a produção, provocando blecautes. O mesmo ocorre na Europa, continente que decidiu optar por uma combinação irrealizável entre muito consumo elétrico, impulsionado pela frota de veículos elétricos; e pouca produção elétrica, asfixiada pelos gargalos da sustentabilidade.

A situação energética do Velho Continente se agrava com a forma como as matrizes energéticas dali estão interconectadas. A matriz da Espanha possui ramificações em diversos outros países europeus. Isso tornou esses países dependentes da Espanha e vulneráveis às opções energéticas dali. A integração européia e o ambientalismo irrestrito foram amalgamados, gerando dessa forma um efeito dominó.

A ideologia ambientalista que agora norteia a Europa encurralou os países do continente em um beco-sem-saída energético. A sinalização de virtude sustentável e a ideologia de integração continental vieram cobrar seu preço. O blecaute revela que estas não são mais crenças de luxo, que os europeus podiam ostentar como uma grife, sem se preocupar com as conseqüências delas. Essas conseqüências vieram, forçando uma revisão daquelas opções que um dia soavam necessárias e incontornáveis, mas que agora parecem ser de difícil encaixe na realidade.

(Com informações de Pravda Spain e de Shockwave Radio. Imagem: Alexandra Koch / Pixabay)