Assembleia Discute Medidas para Prevenção e Combate à Obesidade
Especialistas e pacientes apontam riscos à saúde associados a essa condição e cobram mais visibilidade e investimentos para tratar a obesidade
Mais de 1 bilhão de pessoas no mundo têm obesidade. No Brasil a doença atinge quase 25% da população, sem falar que mais de 60% estão com sobrepeso. No Espírito Santo 70% dos adultos estão acima do peso, sendo que, destes, 37% apresentam quadro clínico de obesidade.
Os dados relativos a 2023 são da pesquisa sobre vigilância de fatores de risco de doenças crônicas, realizada no âmbito do Ministério da Saúde, e foram apresentados durante reunião da Frente Parlamentar de Prevenção, Diagnóstico e Tratamento do Diabetes da Assembleia Legislativa (Ales), realizada nesta quarta-feira (14).
Durante o encontro, especialistas defenderam a necessidade de mais visibilidade na sociedade acerca da gravidade que a obesidade representa, haja vista ser causa principal de muitas sequelas, entre elas diabetes, pressão alta, infarto e câncer de fígado.
Segundo a endocrinologista Mariana Guerra, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), são necessárias políticas públicas para enfrentar a obesidade, desde medidas preventivas na atenção primária à saúde, passando por programas de reeducação alimentar.
Ela destaca ainda como importante a distribuição, pelo Sistema Único de Saúde, de medicamentos modernos lançados no mercado que evitam o ganho descontrolado de peso sem inibir a fome, permitindo ao paciente se alimentar de forma balanceada, mantendo-se nutrido, podendo evitar a realização de cirurgias bariátricas.
Mariana lamentou que, ao invés disso, o que se tem visto em muitos casos são pacientes ganhando cada vez mais peso, devido ao sedentarismo e alimentação ruim, chegando ao ponto de descontrole que tem feito crescer cada vez mais no país a fila de candidatos à cirurgia bariátrica.
“Essa operação é muito difícil de ser conseguida pelo SUS devido à grande demanda. E também não deve ser vista como solução da obesidade, já que boa parte dos bariátricos ganha excesso de peso novamente, e esse procedimento pode ser evitado se houver medidas preventivas”, observou.
Reeducação alimentar
A diretora da Associação dos Diabéticos do Espírito Santo, Lorena Bucher, defendeu que não apenas o Estado, mas também as prefeituras, contratem nutricionistas e endocrinologistas para atuarem em programas de reeducação alimentar.
Nesse sentido, solicitou ao presidente da Frente, deputado Gandini (PSD), que encaminhe ofício aos prefeitos solicitando informações sobre o número desses especialistas que atendem nos serviços municipais de saúde.
Ela disse que é preciso fazer um mapeamento para saber quantos nutricionistas e endócrinos estão disponíveis para atender as pessoas nas cidades da Grande Vitória e do interior. “Vamos fazer um levantamento para propor contratações e implantação de programas de prevenção e combate à obesidade”, sugeriu.
Nutricionista, Lorena considera que a maioria das pessoas não sabe o que está ingerindo, já que não entende o que é um carboidrato, as funções do arroz e do feijão, os efeitos desastrosos do excesso de açúcar na alimentação, e porque é importante ingerir frutas, legumes e proteínas.
Preconceito e demora
Durante a reunião houve relatos de pessoas com obesidade sobre dificuldades enfrentadas para conseguirem tratamento pelo SUS e outros desafios no estado.
Inara Silva, que tenta emagrecer, afirmou que além da falta de medicamentos e dificuldade de atendimento, pacientes como ela sofrem também de “gordofobia” praticada por médicos e outros profissionais de saúde.
Segundo ela, muitos desses profissionais demonstram irritação pelo fato de os obesos não conseguirem emagrecer, pois acreditam que se trata apenas de uma questão de “fechar a boca” (comer menos).
Inara relatou ainda que muitas pessoas com obesidade têm morrido devido à demora na fila dos que aguardam por cirurgia bariátrica. Já houve também, segundo disse, paciente que morreu devido à falta de maca com tamanho adequado para transportar pessoas obesas. Ela citou o caso de um paciente que teria ficado oito horas dentro de uma ambulância sem condições de ser levado para dentro do hospital.
Por meio de vídeo, a paciente de nome Luiza, de Cariacica, relatou o drama que está vivenciando, já que aguarda há mais de dois anos na fila para fazer uma cirurgia bariátrica. Segundo ela, a cirurgia chegou a ser agendada uma vez, mas devido à demora os exames preparatórios já estavam com o prazo de validade vencido, o que acabou inviabilizando a realização do procedimento.
“Sem dúvida é preciso mais atenção do poder público e das pessoas no sentido de prevenir o ganho de peso, a obesidade, bem como evitar o sedentarismo. O debate foi muito importante e vamos sugerir ao Estado e às prefeituras medidas voltadas para esse fim”, declarou o deputado Gandini.
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