Entrevista Exclusiva: Georgy Carlossovitch Muzileev Publio
Eu e Paçoquinha fomos ao “Fim do Mundo’ de bicicleta.
O Russo erradicado no Brasil saiu da Bahia para atravessar o Continente Sul Americano de bicicleta. Georgy Publio e Paçoquinha quase morreram após, concluir sua jornada inicial.
Ao vencer o primeiro desafio de chegar a Patagônia, o aventureiro e sua fiel cadelinha tornaram-se náufragos em companhia de dois novos amigos que conheceram no “Fim do Mundo”.
No primeiro dia de junho de 2021, acompanhado de sua amiga e companheira a cadelinha Paçoquinha, Georgy Publio e Paçoquinha saíram do estado da Bahia – BR, para se aventurar pedalando em destino a Patagônia.
“Nossa aventura iniciou em Vitória da Conquista – Bahia e em onze meses alcançamos mais de 10 mil quilômetros pedalando até chegarmos ao nosso objetivo, a última cidade do Continente Sul Americano.
“O fim do Mundo é lindo”, declara com ar de superação Georgy Publio.
‘A ideia quando saímos de Vitória da Conquista na Bahia – Brasil, era chegarmos até a Patagônia de bicicleta e conseguimos. Chegamos a Ushuaia.
Porém, o vicioso ciclo de aventura, após cumprida a primeira jornada em Ushuaia prosseguiu em meu espírito aventureiro”, revelou Georgy.
Findada a meta inicial, conheceram em Ushuaia, dois aventureiros.
Duas pessoas de nacionalidades de origem também russa. Dois navegantes aventureiros em busca de aventuras mais amplas.
Na nova aventura foi convidado a participar de parte do objetivo da dupla russa.
Na nova meta, o ciclo maior de aventura que o espirito humano tende a buscar, a jornada da “Volta ao Mundo’. Então, nosso aventureiro da bike e sua fiel amiga paçoca, embarcaram no barco do tipo inflável de onze metros, com os novos amigos, Stanislav Berezkin (capitão) e Evgeny Kovalevski (Chefe da Expedição).
Assim, convencidos, os novos amigos seguiam pelo mar, viajavam velejando em um Trimaram, navegando o maior dos oceanos, para descanso da bicicleta.
“Fomos ao Cabo de Hornos e subimos os Fiordes Chilenos e a partir daí a aventura seguiu um curso não programado inicialmente. Quando me dei conta estávamos atravessando, cruzando o Oceano Pacífico.
A ideia quando saímos de Vitória da Conquista na Bahia – Brasil, era chegarmos até a Patagônia de bicicleta. As demais jornadas de aventura, a Ilha de Páscoa após vinte e um dia de navegação, porém, não foi o que aconteceu”, afirmou, Georgy Carlossovitch Muzileev Publio.
Em poucos dias “navegando a Galeno, em mar côncavo e plano”, como diria o poeta Teófilo Dias.
A saudade da bicicleta, das cansativas pedaladas em terra firme foi maior.
Sem o aviso das aves procelárias, a tempestade veio.
Ondas de quatro metros, em meio à turbulência de dois ciclones avariaram o fundo do barco Trimaram e para agravar o destino dos tripulantes, a perda do leme deixou a embarcação à deriva, sem rumo na imensidão do Oceano Pacífico.
Obrigando a tripulação a declarar o SOS, a palavra “socorro” passou a ser a esperança da tripulação.
As perdas materiais foram inúmeras e eles foram resgatados até o extremo sul chileno. No Chile, chegaram em terra firme na cidade de Punta Arenas graças ao eficiente resgate. “Em Punta Arenas, arrumei a mochila, comprei apenas o necessário para viagem de retorno”.
Relata o aventureiro que já comemora o êxito de sua jornada rumo ao “Fim do Mundo” e agora de volta ao conforto do seu lar na ensolarada Bahia, se prepara para escrever um livro com detalhes da jornada.
Leia a entrevista exclusiva ao Consócio de Notícias do Espirito Santo.
Como foi a sua trajetória no território Brasileiro?
Saímos de Vitória da Conquista – BA no dia 01/06/2021 e a partir daí, cruzamos sete Estados Brasileiros que são: BA, MG, RJ, SP, PR, SC e RS.
Passamos por diversos pontos turísticos e históricos como: Estrada Real, desde Diamantina-MG até Rio de Janeiro-RJ, conhecemos todo o litoral desde o RJ até SC, a Serra Catarinense desde Florianópolis-SC até Itapiranga – SC e cruzamos para o próximo país, Argentina.
Qual o percurso pela Argentina até a Patagônia, no ‘fim do mundo’?
Na Argentina pedalamos por 13 Estados que eles chamam de províncias. Desde Puerto Iguazú até Buenos Aires, de Buenos Aires a Mendonça e de Mendonça a Ushuaia.
Conhecemos boa parte da Cordilheira dos Andes, o Glaciar Perito Moreno, Monte Fitz Roy e assim chegamos no famoso Fim do Mundo, Ushuaia, na famosa Patagônia, na Argentina. No final da nossa América do Sul.
Como foi sua estadia em Ushuaia, na Patagônia?
Em Ushuaia passamos todo o inverno trabalhando com turismo e com veleiros que iam a Antártida. Logo embarcamos em um que nos levou para o Cabo de Hornos e pela Costa do Chile até Concepción.
Foi aí que você foi convidado a embarcar e navegar, o que aconteceu que obrigou a mudar os planos?
Essa embarcação de tripulação Russa estava fazendo uma volta ao mundo num barco inflável Trimaran a fim de impor recordes mundiais, porém, ao cruzar o Oceano Pacífico sofreu um naufrágio. O veleiro Trimaram, ficou à deriva em meio ao mau tempo. Pegamos uma forte tempestade.
Fomos resgatados a 800 milhas da Ilha de Páscoa por um navio de carga com tripulação Ucraniana, o que gerou repercussões muito fortes ao redor do mundo inteiro, tendo em vista a situação de guerra entre os dois países.
Como foi o resgate, tipo de embarcação e o seu sentimento quando viu tudo naufragar?
Várias vezes pensei que a história para mim acabava por ali. Passei muito mal quando recebi a notícia e tive que selecionar só o que salvaria. Escolhi a cachorrinha paçoca, documento, celular e dinheiro.
Fomos resgatados a 800 milhas da Ilha de Páscoa por um navio de carga com tripulação Ucraniana, o que gerou repercussões muito fortes ao redor do mundo inteiro, tendo em vista a situação de guerra entre os dois países. O barco que estávamos era de origem Russa. Incrivelmente fomos resgatados por uma embarcação ucraniana. Uma embarcação cargueira. Navio de 200m com tripulação Ucraniana e filipina que levava soja dos EUA ao Brasil.
Durante o período de aflição no naufrágio, vocês ficaram boiando no mar? Tinha algum bote salva vidas, colete? O barco chegou a afundar antes de vocês serem resgatados?
O barco estava furado e desgovernado numa tempestade, porém ainda nos mantínhamos em cima dele. O resgate veio em menos de 24h e essa foi a nossa salvação para não precisar ficar naquela água gelada. Tínhamos coletes salva vidas, mas não chegamos a ter de abandonar o Trimaran.
Do chile você disse que pegou carona até o Brasil, especificamente até São Paulo – SP, como foi a carona, como conseguiu, o modo de transporte, pegou mais de uma carona?
Peguei mais de seis caronas no total até chegar em São Paulo. A maioria foi de caminhão porque eles andam mais quilômetros por dia. Fazíamos uma média de 700km por dia. Em pouco mais de 1 semana estava em São Paulo, andei de carona aproximadamente 4000km sem pagar um centavo por isso, foram sete dias de caronas.
Em São Paulo conseguiu uma bicicleta, você ganhou, comprou?
Eu consegui a bicicleta emprestada com um amigo, busquei na casa dele, adaptei para viagem e segui pedalando para casa, pedalamos então até Vitoria da Conquista.
E como foi o caminho de volta, após trocar de bicicleta e perder muitas coisas no naufrágio?
Foi difícil em termos financeiros. Durante os anos pedalando já tinha a minha bicicleta com os acessórios no jeito, mas a bicicleta nova estava absolutamente nua, sem nenhum equipamento ou acessório. Tive que recuperar todas as coisas e sem ajuda de ninguém. Não sei porque não quis fazer vaquinha, embora os seguidores me davam sempre essa ideia. De São Paulo a Vitória da Conquista são apenas 2.000km que levei um mês para cruzar pedalando. Passei pelo litoral de Bertioga-SP, RJ, Espírito Santo até Porto Seguro – BA e subi a Serra do Marçal para Chegar na minha cidade, Vitória da Conquista.
A ideia era voltar no mesmo dia que saímos de viagem com exatos 2 anos de diferença, 01.06.2023, porem a viagem levou exatamente 1 ano, 11 meses e 15 dias. Totalizou mais de 12.000km pedalados, mais de 2.000km milhas navegadas e mais de 5.000km andando de carona.
Já morou no Espírito Santo?
Não morei mas tenho vários amigos. Descobri um paraíso natural oculto e cheio de pessoas acolhedoras, o Estado do Espirito Santo é muito acolhedor e muito bonito.
Seus pais e familiares moram no Brasil?
Moram no Brasil, hoje minha mãe está morando em Florianópolis, meu pai e irmão moram em Vitória da Conquista – BA.
Essa foi a primeira aventura pedalando grandes distâncias?
Grandes distâncias não, já fiz Chapada Diamantina, litoral Baiano e até pedalei da capital SP a capital do RJ antes dessa. Mas distâncias ENORMES de 12.000km. Foi a primeira vez atravessando dois países. É muito interessante pela aventura e pela relação com os costumes diferenciados.
Quais foram as maiores dificuldades na viagem, física, emocional, relacionamento?
Emocional. Pedalar sem saber o que tem pela frente, onde vai dormir, o que vai comer, com quem vai encontrar, isso é muito vulnerável. O físico se resolve com uma simples soneca.
Entre os vários estados que passou pelo Brasil, você sentiu diferença no acolhimento e trato durante o percurso?
Nunca acampei no estado de SC, as pessoas sempre me chamavam para sua casa. Nos demais estados acampava ou dormia a céu aberto. Em todos os outros estados fui muito bem tratado também, sempre conseguia tudo que precisava, existiu muita solidariedade.
Fora do Brasil, qual a diferença entre costumes, culinária, acolhimento, solidariedade?
Solidariedade e acolhimento igual ao Brasil. Argentinos são muito parecidos. Os chilenos já são um pouco mais reservados, mas por conta da cultura. As refeições como marmitex, self-service, Prato Feito – PF, só existem no Brasil e isso ajudou muito na dinâmica da viagem. Ajuda no custo e na condição de abastecimento para seguir pedalando.
Quanto a questão financeira, saberia estimar o valor gasto na viagem? Além de recursos próprios, recebeu algum apoio?
Recebi apoio de uma Academia de ginastica, chamada Academia Ativa, localizada em Vitória da Conquista BA, minha cidade. Além disso, trabalhava no caminho vendendo aroma de carro no Brasil e fotografias na Argentina, e assim fui custeando a viagem, por etapas, dia a dia.
Você narrou a sua jornada nas redes sociais, recebeu muito estímulo, te ajudou a superar as dificuldades?
As pessoas agradecem o compartilhar das vivências e dizem que isso os motiva a realizar seus sonhos também. Isso é muito gratificante e com certeza motiva continuar em frente.
Como você avalia a sua companheira de viagem e a importância da paçoquinha?
A Paçoquinha é uma guerreira ímpar. Uma pequena aventureira de tamanho, mas enorme e corajosa de espírito. Imaginem quantas experiências ela já viveu. Na bicicleta ou no mar foi a melhor companhia e apoio que se pode imaginar.
Qual o próximo passo agora que já está em casa?
Em casa quero escrever o livro sobre essa história, fazer palestras para contá-la, organizar as redes sociais como YouTube e Instagram e preparar me para as próximas aventuras pelas estradas e mares.
Por Mario Berardinelli
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