Espírito Santo Registra Queda na Mortalidade Materna

Espírito Santo Registra Queda na Mortalidade Materna

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a morte materna como o óbito de mulheres durante a gestação, no parto e até 42 dias após o parto. No Espírito Santo, a Secretaria de Estado de Saúde informa que, até o primeiro quadrimestre deste ano, foram cinco casos de morte materna.

Houve uma redução significativa. No ano passado foram 16 casos; em 2022, 28; em 2021, 49; e em 2020, 37. Uma realidade oposta a 2014, quando foram 386 mortes por casa 100 mil habitantes.

Os municípios são responsáveis pelos atendimentos às gestantes. Nas Unidades de Saúde, elas participam de palestras, tem consulta, acompanhamento em casos de problemas relacionados ao período gestacional, como diabetes.

De acordo com o Ministério da Saúde, a mulher grávida deve iniciar o pré-natal na Atenção Primária à Saúde logo que descobrir a gravidez, de preferência até a 12ª semana de gestação.

O Instituto Nacional Fernandes Figueira de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente (IFF) destaca que as altas taxas de mortalidade materna são um grave problema de saúde pública que atinge de forma variada as regiões brasileiras, com maior número de mulheres com classe social mais baixa, mas afirma que essa fatalidade pode ser evitada em 92% dos casos e acontece, principalmente, em países em desenvolvimento.

É o que mostra um relatório de Saúde Europeia, que afirma que todos os países do continente conseguiram alcançar a meta de redução da mortalidade materna. De acordo com o documento, a taxa média é de 13 mortes a cada 100 mil nascimentos.

Esses números são bem inferiores aos 70 por 100 mil estipulados como um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) pela agenda 2030 das Organizações das Nações Unidas (ONU).

Trazendo essa realidade para o nosso país, o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) com dados coletados até junho deste ano, mostram que o Brasil até agora já teve 21.818 casos de mortalidade materna.

Dentro do Painel de Monitoramento de Maternidade Materna. a região Sudeste tem mais óbitos maternos, 9.126, seguido pela região Nordeste (5.932), região Sul (2.970), Norte (1.929), Centro-Oeste (1.861) e Distrito Federal com (298).

Serra

A Secretaria de Saúde da Serra tem o Programa de Saúde da Mulher e presta assistência à saúde sexual, planejamento reprodutivo,  pré-natal, pós-parto, saúde da criança e saúde do adolescente. A mulher grávida deve iniciar o pré-natal tão logo descubra ou desconfie que esteja grávida, preferencialmente até a 12ª semana de gestação.

O pré-natal é realizado em todas as 40 unidades de saúde do município. Após o parto, as unidades de saúde finalizam o pré-natal com a consulta puerperal, onde a instrução sobre os cuidados com o corpo, aleitamento materno, alimentação materna e cuidados com recém-nascido.

Na Serra, a mulher pode optar por realizar o parto no Hospital Municipal Materno Infantil (HMMI). Desde a inauguração, em 2022, já foram realizados mais de 9,1 mil partos. O local te, carta de serviços extensa com Banco de Leite e orientação à amamentação, além de cirurgias ginecológicas.

Caso necessário, a paciente é encaminhada para o Hospital Estadual Dr. Jayme Santos Neves, referência em gestação de alto risco.

Cariacica

Em Cariacica, a Secretaria Municipal de Saúde (Semus), realiza o atendimento de pré-natal nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) por uma equipe multidisciplinar formada por médicos, enfermeiros e dentistas. Durante as consultas mensais, é feita a estratificação do risco gestacional, ou seja, uma atenção especial à gestante e ao bebê.

Se for identificado um alto risco gestacional, a paciente é encaminhada para acompanhamento com um ginecologista obstetra. É importante ressaltar que a gestante continua sendo acompanhada pela UBS de referência.

No caso das gestantes de risco habitual, o parto ocorre na Maternidade Municipal de Cariacica. No entanto, em casos de alto risco, conforme acordo com a Sesa, o parto é realizado no Hospital Estadual Jayme Santos Neves.

Quando ocorre o óbito da gestante, a Semus, por meio da Vigilância Epidemiológica, investiga todos os casos que envolvem mulheres em idade fértil, para implementar ações assistenciais.

Viana

A Prefeitura de Viana, por meio da Secretaria de Saúde (Semsa), informa que as gestantes são acompanhadas nas unidades básicas de saúde. As de alto risco recebem acompanhamento com ginecologista na Policlínica de Marcílio de Noronha. Caso necessário, são encaminhadas ao Hospital Estadual Dr. Jayme Santos Neves.

Vila Velha

A Secretaria de Saúde da Prefeitura de Vila Velha esclarece que, no SUS, as grávidas recebem o cuidado de acordo com a Rede de Atenção à Saúde Materna e Infantil-Rede Cegonha.

O acesso é aberto e o atendimento é feito por demanda espontânea para todas as mulheres com suspeita de gravidez (ou gravidez confirmada) que procuram o serviço de Atenção Primária à Saúde (Unidades Básicas de Saúde da Família-USF) de referência do território onde residem.

Após a confirmação da gestação, são realizados os testes rápidos para rastreio de HIV, sífilis e hepatites B e C, e encaminhamento para agendamento da primeira consulta de pré-natal na USF.

Na USF é realizada avaliação clínica e social, solicitação de exames complementares preconizados pelo Ministério da Saúde, encaminhamentos ao dentista, à sala de vacina para atualização do cartão de vacina e identificação e investigação de fatores de risco para estratificação do risco gestacional.

Aquelas estratificadas como risco habitual realizam o pré-natal na USF de referência com consultas individuais sequenciais intercaladas com médico e enfermeiro. A periodicidade dessas consultas depende das condições clínicas e/ou vulnerabilidade de cada gestante.

Porém a recomendação mínima é consulta mensal até a 28ª semana de gestação, consulta quinzenal da 28ª a 36ª semana de gestação e semanal da 36ª até o parto. Já as estratificadas como alto risco realizam o acompanhamento de pré-natal com o médico de saúde da família de sua USF de referência e na Atenção Ambulatorial Especializada, ou seja, com profissional obstetra do CEMAS.

Gestantes de risco habitual podem escolher entre serem encaminhadas para o Hospital da Mulher de Cobilândia ou para o Hospital Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (Himaba). Casos de alto risco fetal são encaminhadas para o Himaba e os de alto risco materno para o Hospital Jayme dos Santos Neves.

Vitória

A Secretaria de Saúde de Vitória (Semus) realiza o acompanhamento do pré-natal em todas as 29 Unidades de Saúde do município, além de encaminhar as gestantes de alto risco para o pré-natal de alto risco no Centro Municipal de Especialidades de Vitória. O acesso é prioritário e “porta aberta” nas Unidades de Saúde. As maternidades de referência de Vitória são a Pró Matre (risco habitual) e Hucam (alto risco).

O “Perfil epidemiológico da mortalidade materna no estado do Espírito Santo durante o período de 2014 a 2018”, da Revista Acervo Saúde, publicado em fevereiro de 2021, analisou a mortalidade nesse período. O estudo coletou dados nas macrorregiões do estado colhendo informações sobre a mortalidade e as faixas etárias, cor e raça, escolaridade e estado civil das mulheres.

O resultado mostrou que as maiores taxas de mortalidade ocorreram em (47,1%) de mulheres de pele parda com 8 a 11 anos de escolaridade (39%), faixa etária de 30 a 39 anos (44,2%) e solteiras (49%).

Era uma gestação tranquila, até que.

Bruno* (nome fictício) aceitou nos contar a história da falecida esposa Bruna* (nome fictício). Eles estavam casados há algum tempo e já tinham um filho, ainda pequeno. Ela teve a primeira gestação tranquila e na segunda alguns sintomas como azia e queimação.

Mas ninguém imaginava que esses poderiam ser possíveis sintomas de uma doença fatal.  A Bruna faleceu em janeiro de 2018 de acreticismo placentário. três dias depois do parto”.

Bruno diz que estava acompanhando a esposa no parto, quando o obstetra disse “acreta”. Essa doença tem por característica uma hemorragia muito difícil de ser contida. “No caso da Bruna, infelizmente, não foi possível”, lembra.

Segundo ele, o médico tentou conter o forte sangramento. “Minha filha havia nascido e minha falecida esposa lutava pela vida, na UTI. Eu estava dividido entre minha filha e minha esposa. Ela precisava da mãe para se alimentar e não tinha, teve que tomar fórmula. Depois conseguimos leite materno no banco de leite para ela”.

O caso da Bruna se agravou e ela faleceu. “Na hora a gente não sabe o que pensar, se foi erro médico. Não tinha cabeça para mais nada, estava perdendo minha esposa e minha filha ali precisando de mim. Foi um momento de muita dor para todos nós”.

A mortalidade materna tira a família do eixo. “Foi um período muito difícil. Tive que trazer meus pais para morar comigo. Minha mãe, que era a avó, assumiu a maternidade da minha filha. Eu tive acompanhamento psicológico para me fortalecer e cuidar do meu filho, que perguntava pela mãe, quando ela voltaria para casa. Foi difícil, mas, com o tempo, ajuda dos meus pais, ser um homem de fé, ter um ciclo de amigos, conseguimos nos reerguer”.

Do outro lado, a área médica acostumada a salvar vidas também lida com essa realidade, vendo a paciente entrar no centro cirúrgico e, num instante, ver a vida sumir da frente, deles sem tempo para evitar.

Otto Baptista, presidente do Sindicato dos Médicos do Espírito Santo, relata, que como médico, já viveu situações muito difíceis com relação a mortalidade materna. “Sou ginecologista obstetra há 35 anos e posso dizer que já vivi épocas muito críticas, em que o SUS e maternidades públicas eram apenas Pró-Matre, Santa Casa e Hospital das Clínicas”.

O médico credita ao crescimento populacional no estado, que contribuiu para o desenvolvimento da capital. “Com o crescimento do Espírito Santo, recebemos muitas pessoas vindas dos estados de Minas Gerais, Alagoas e Bahia. Houve uma explosão populacional e com ela um maior número de gestantes e partos. Com o percentual maior, mais complicações maternas, que vão desde o início da gravidez até o pós-parto”.

O médico relata que, nesse período, não havia a estrutura que temos hoje para atender as demandas. “Hoje em dia temos hospitais referência para pacientes em situação de risco, e temos as outras maternidades que atendem diariamente”.

O médico

Se para a família a notícia é um pesadelo, os médicos são os portadores dessa má notícia. Letice Silva Oliveira Silva fala sobre esse momento. “Ter que dar a notícia a uma família é uma tarefa muito difícil. Dentro da nossa área, não lidamos bem com essa parte, somos formamos para salvar vidas, a faculdade não ensina a perder uma vida”.

“Durante a gravidez a mulher passa pelo pré-natal com consultas e exames. Quando detectamos algum fator de risco que pode levar a mãe ou feto ao quadro de risco, ela é encaminhada para o atendimento ao especialista em gravidez de alto risco. Aqui no Brasil, as principais causas de morte materna são as hemorragias, pressão arterial, infecções, chegando a 60% das mortes maternas”.

Para a médica, muitas dessas mortes poderiam ser evitadas se houvesse mais tempo entre a gestante e equipe médica. Os planos de saúde criam uma rotina como linha de produção, não dispondo de equipes para passar o tempo necessário para o parto natural, aliados a falta de informação, que linka parto natural com dor e sofrimento.

“Existem relatos que mostram que o aumento de partos cesarianas, nos locais onde têm maior número de partos por cesarianas, é mais difícil diminuir o número de morte materna. A cesariana aumenta o número de mortalidades”.

O parto natural recebe esse nome porque é realizado no momento da criança, sem indução de medicamentos para dor ou aumento das contrações. Mas ainda há quem prefira um parto com data e hora marcada.

“Cada mulher é única. Durante a gestação o parto adequado é construído, com atendimento de qualidade, muitas informações a respeito dos tipos de parto, o que ela pode fazer para ajudar o corpo a se preparar para o nascimento do feto”.

Letice destaca que dificilmente uma mulher não consegue ter um parto natural. “O parto não começa na primeira contração. Ele começa bem antes. Quando a gestante se alimenta de forma adequada, porque o sobrepeso gestacional é um implicador do parto, já que pode causar uma diabetes ou pressão alta; quando ela faz atividade física, seja uma caminhada, ou outra atividade que queira, e obtêm as informações na fonte certa. Leve para as consultas com o obstetra as dúvidas que vão surgindo, os medos. Dessa forma, juntos, médico e gestante, é possível sim ter um parto natural, com muito menos chances de riscos para a mãe e o feto.