Instituto Modus Vivendi e Galeria Matias Brotas levam arte contemporânea de José Bechara à Aldeia de Reis Magos

Exposição “Para nadar é preciso vencer o mar” inaugura em 14 de agosto e propõe diálogo entre a arte contemporânea e um dos mais importantes patrimônios históricos do Espírito Santo
O Estado do Espírito Santo, em especial o município de Serra, vai ganhar, a partir de 14 de agosto de 2025, uma nova camada de diálogo entre passado e presente. O Centro Interpretativo da Aldeia de Reis Magos, em Nova Almeida, Serra, abre suas portas para receber a exposição “Para nadar é preciso vencer o mar”, do artista carioca José Bechara — um dos nomes mais reconhecidos da arte contemporânea brasileira. A mostra será apresentada na Galeria Belchior Paulo, espaço expositivo que integra o complexo histórico e cultural e homenageia o jesuíta português considerado o primeiro artista a exercer o ofício no Brasil, no final do século XVI.
Bechara levará ao local pinturas, com exceção de uma, completamente inéditas, criadas especialmente para o evento, e uma escultura de grandes dimensões que será instalada na área externa da galeria. Nas pinturas, o artista utiliza processos de oxidação de metais sobre lonas de caminhão reaproveitadas, técnica que desenvolve há décadas e que lhe permite criar superfícies vibrantes, marcadas pelo tempo e pelo atrito químico dos materiais. Na escultura, combina mármore e metais, explorando contrastes entre solidez, transformação e instabilidade.
Um espaço onde a história respira
O Centro Interpretativo da Aldeia de Reis Magos ocupa o conjunto arquitetônico da antiga missão jesuítica fundada em 1589. Localizado no alto de uma colina com vista para o mar, o espaço foi concebido originalmente para catequese e ensino, reunindo elementos da arquitetura religiosa e militar do período colonial.
Hoje, o Centro funciona como museu e polo cultural, preservando a história do encontro e do confronto entre culturas — indígenas tupiniquins, religiosos europeus e colonos portugueses — e oferecendo ao público atividades que vão de visitas guiadas a mostras de arte contemporânea.
A Galeria Belchior Paulo, situada dentro do antigo mosteiro, é um espaço singular para exposições: pequena, intimista e carregada de memória, ela desafia os artistas a dialogarem com um ambiente de forte caráter histórico e simbólico.
Instituto Modus Vivendi: gestão que une preservação e inovação
A gestão do Centro Interpretativo é responsabilidade do Instituto Modus Vivendi, organização que se destaca nacionalmente por sua atuação na preservação patrimonial, difusão cultural e valorização de territórios históricos. Fundado por profissionais com experiência em gestão, produção e curadoria, o Instituto atua na criação de projetos culturais integrados, nos quais o patrimônio não é visto apenas como herança a ser guardada, mas como plataforma viva de diálogo e transformação.
No caso da Aldeia de Reis Magos, o Modus Vivendi realiza programas educativos, ações de mediação cultural, exposições temporárias e eventos artísticos que ampliam a relação do monumento com a comunidade local e com o turismo cultural. Essa abordagem combina rigor na conservação física do patrimônio com inovação na programação artística, trazendo ao Espírito Santo nomes de projeção nacional e internacional — como é o caso de José Bechara.

Segundo Erika Kunkel, presidente do Instituto e com vasta experiência em trabalhos com monumentos como o Convento da Penha, a Catedral, o Santuário de São José de Anchieta, Centro Interpretativo de Reis Magos, o Palácio Anchieta, o Theatro Carlos Gomes e Araçatiba, entre outros,
a escolha de Bechara para ocupar a galeria representa um encontro de forças criativas e simbólicas:
“A união do arrojado José Bechara com o espaço reforça o aspecto cultural e histórico do monumento, criando um diálogo entre passado e presente, entre os jesuítas e Bechara, entre o colonial e o contemporâneo. Assim como o título da exposição diz: para nadar é preciso vencer o mar. Assim foi a história dos jesuítas, que venceram o mar e deixaram no Espírito Santo um legado que segue atual e único desde a colonização do Brasil”, afirma.
Essa visão reflete um dos pilares do trabalho do Modus Vivendi: inserir o patrimônio histórico no circuito contemporâneo da arte e da cultura, tornando-o relevante tanto para especialistas quanto para visitantes ocasionais.

José Bechara: um olhar que investiga a pele do mundo
José Bechara construiu uma trajetória marcada pelo experimentalismo e pela busca de novas formas de interação entre materiais e superfícies. Sua obra transita por pintura, escultura, desenho e instalação, sempre com uma atenção especial ao processo de transformação da matéria.
As oxidações que caracterizam suas pinturas são resultado de reações químicas cuidadosamente controladas, criando composições cromáticas que não são “pintadas” no sentido tradicional, mas emergem da própria ação do tempo, da água, do ar e do metal sobre as lonas desgastadas.
No campo tridimensional, Bechara explora relações de peso, equilíbrio e tensão, muitas vezes combinando elementos industriais e naturais. Sua produção já integrou acervos e exposições em instituições como o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, o Museu de Arte Moderna de São Paulo, o Museo Nacional de Bellas Artes (Buenos Aires) e a Bienal de Veneza.
A motivação para a mostra na Aldeia
O convite para expor na Aldeia de Reis Magos trouxe a Bechara uma motivação especial. Para ele, a força do espaço não está apenas na arquitetura, mas na profunda carga histórica e simbólica que ele carrega:
“Me animei em participar desta exposição pelo fato dela acontecer num monumento de longa história. É um equipamento arquitetônico inserido na história da formação do Brasil. Essa relação com a memória foi uma das razões que me motivaram a fazer este trabalho. A galeria pequena, dentro de um mosteiro, guarda peculiaridades. Ela não é um espaço comum no circuito de arte contemporânea, e isso me estimulou a criar esta mostra.”
A curadoria: equilíbrio tenso e efêmero
O texto curatorial da mostra é assinado por Agnaldo Faria, crítico e curador de arte de relevância nacional. Ele descreve o trabalho de Bechara como uma investigação profunda das superfícies e dos materiais, um mergulho no que chama de “pele do mundo”:

“Bechara perscruta a pele do mundo. Grande parte de suas pinturas, desenhos, esculturas e instalações faz uso de matérias oxidadas, elementos instáveis, algumas à beira do colapso. Interessa ao artista o desenvolvimento interno dos materiais, a peculiaridade de seu atrito com os elementos, a troca permanente que há entre as coisas, a começar pelo suor excessivo do nosso corpo sob o sol carioca, encharcando nossas roupas, provas de um equilíbrio tenso e efêmero.”
Impacto para o cenário artístico capixaba
A presença de José Bechara na Aldeia de Reis Magos insere o Espírito Santo, mais uma vez, no mapa de relevância do circuito nacional de arte contemporânea. Eventos como este não apenas fortalecem a programação cultural local, mas ampliam as possibilidades de formação de público, atraindo visitantes de outras regiões e estimulando novas leituras sobre o patrimônio histórico capixaba.
Para artistas e produtores culturais locais, a realização de exposições desse porte funciona como referência de qualidade e inovação, criando oportunidades de diálogo com práticas e discursos consolidados no cenário brasileiro. Ao mesmo tempo, o uso de um espaço de alta carga simbólica, como a Aldeia, reforça o papel do Espírito Santo como território onde memória e contemporaneidade podem coexistir de forma produtiva.
Essa estratégia contribui para consolidar a imagem do estado não apenas como destino turístico, mas como polo cultural em crescimento, capaz de sediar eventos e exposições de padrão internacional sem perder de vista sua identidade e especificidades históricas.
História e memória da Aldeia de Reis Magos
Erguida em 1589 pelos padres jesuítas, a Aldeia de Reis Magos nasceu como parte de um projeto missionário de catequização e integração dos povos indígenas tupiniquins ao universo cultural e religioso europeu. Localizada estrategicamente em Nova Almeida, na foz do rio Reis Magos, a aldeia foi construída com o apoio da Coroa Portuguesa para consolidar a presença colonial na região e criar um núcleo de ensino, fé e defesa.
O conjunto arquitetônico reunia igreja, mosteiro e dependências auxiliares, e foi batizado em homenagem aos Três Reis Magos, símbolo de peregrinação, encontro e revelação. No local, missionários como o padre Belchior Paulo — reconhecido como o primeiro artista do Brasil — ensinaram pintura, escultura, música e escrita aos indígenas, criando uma convivência marcada tanto por trocas culturais quanto por tensões e conflitos.
Ao longo dos séculos, o espaço passou por períodos de abandono, reformas e reinvenções. Em tempos coloniais, serviu como núcleo religioso e defensivo; depois, enfrentou fases de declínio, chegando a ficar em ruínas. A partir do século XX, movimentos de preservação começaram a recuperar o conjunto, reconhecendo seu valor histórico, arquitetônico e simbólico para o Espírito Santo e para o Brasil.
Em 2023, com a gestão assumida pelo Instituto Modus Vivendi, o local passou por uma nova fase de revitalização. Hoje, além de receber visitantes interessados em sua história, a Aldeia atua como centro cultural vivo, abrindo espaço para música, teatro, exposições e atividades educativas. Esse reposicionamento transforma o monumento em ponto de encontro entre memória e contemporaneidade, conectando o passado colonial às linguagens artísticas atuais.
É nesse contexto que a mostra “Para nadar é preciso vencer o mar” de José Bechara se insere: ocupando um espaço que já foi cenário de encontros interculturais há mais de 400 anos, ela reforça a ideia de que o patrimônio histórico não é apenas uma peça de museu, mas uma arena onde novas ideias e interpretações podem emergir.
Serviço – Mostra “Para nadar é preciso vencer o mar”
Artista: José Bechara
Abertura: 14 de agosto de 2025, às 16h
Período de visitação: 14 de agosto de 2025 a 18 de janeiro de 2026
Local: Galeria Belchior Paulo – Centro Interpretativo da Aldeia de Reis Magos, Nova Almeida, Serra (ES)
Visitação: terça a domingo, das 9h30 às 17h30
Entrada: gratuita

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