“Morango do amor” e o cérebro: o que há por trás do desejo e do prazer

Nos últimos meses, o “morango do amor” se espalhou pelas redes sociais. A fruta, coberta com calda vermelha ou chantilly, virou mais do que um doce bonito: tornou-se símbolo de romantismo, desejo, prazer visual e de uma estética que remete ao afeto.
Mas por que essa imagem nos atrai tanto? A explicação vai além da aparência. O cérebro humano responde intensamente a esse tipo de estímulo, ativando um complexo sistema de recompensa envolvido em sensações como desejo, prazer, memória afetiva e até dependência.
O desejo nasce no cérebro, não no estômago
Ao ver algo atraente — como um morango coberto de calda — o cérebro aciona uma rede de estruturas que inclui o hipotálamo, o núcleo accumbens, o córtex pré-frontal, a amígdala e o hipocampo. Esse sistema é movido pela dopamina, neurotransmissor responsável pela sensação de prazer e motivação.
Curiosamente, o que mais estimula esse circuito não é o prazer em si, mas a antecipação dele. O desejo, portanto, começa antes da primeira mordida, quando o cérebro associa a imagem, o cheiro ou a lembrança a uma experiência positiva. A expectativa de prazer pode ser tão poderosa quanto a própria recompensa.
Quando memória e emoção se encontram com o prazer
Você já sentiu saudade de uma comida só pelo cheiro? Ou quis repetir um momento que ficou “bom na memória”? Isso acontece porque o cérebro conecta prazer a contextos emocionais.
A amígdala processa as emoções do momento, enquanto o hipocampo registra a lembrança. Assim, o cérebro decide o que vale repetir — e o “morango do amor” pode representar muito mais do que um simples doce: ele pode simbolizar carinho, afeto, beleza e desejo.
Quando o sistema de recompensa perde o equilíbrio
Como qualquer outro circuito cerebral, o sistema de recompensa também pode falhar. Em doenças como Parkinson, a queda de dopamina causa perda de motivação e prazer. Na depressão, surge a anedonia — a dificuldade ou incapacidade de sentir prazer em atividades antes prazerosas.
Já em transtornos alimentares, esse sistema pode ser hiperestimulado por alimentos muito calóricos, levando à compulsão. Nas dependências químicas, o cérebro passa a buscar estímulos cada vez mais intensos para alcançar o mesmo nível de prazer, gerando um ciclo vicioso.
Nesses casos, o problema não está na força de vontade, mas sim em um circuito neurológico desregulado.
Muito além de um doce
Falar de dopamina e sistema límbico pode parecer técnico, mas no fundo estamos falando de algo profundamente humano. O desejo, a antecipação e o prazer fazem parte de quem somos. E é entre o olhar e o ato, entre o cheiro e o gosto, que se revela a beleza do nosso sistema nervoso.
O “morango do amor” pode ser apenas uma tendência passageira, mas também pode nos lembrar de que nosso cérebro não vive só de necessidades básicas — ele quer se encantar, lembrar, se emocionar. Quer se conectar com os outros e com as próprias memórias.
No fim das contas, o que mais movimenta nosso cérebro não é só o alimento ou a estética — é o afeto.

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