O coração sente rápido, mas a mente guarda por mais tempo

Por Cristiane Borges
Você sabe diferenciar emoção de sentimento? Entender isso pode mudar sua forma de viver e se relacionar.
Você já se pegou dizendo algo no calor do momento e depois se arrependendo profundamente? Já sentiu um aperto no peito por algo que aconteceu há anos, mas que ainda vive dentro de você como se tivesse sido ontem?
Se a resposta for sim, você não está sozinho.
Todos nós somos movidos por emoções e sentimentos — mas raramente paramos para entender a diferença entre eles. E essa diferença faz toda a diferença.
Emoção: o instinto que vem primeiro
As emoções são como visitantes inesperados: chegam rápido, fortes, e nem sempre pedem licença.
Quando você sente medo ao ouvir um barulho estranho, ou raiva ao ser injustiçado, é seu corpo reagindo automaticamente a um estímulo. Sua frequência cardíaca muda, os músculos se contraem, a respiração acelera. Tudo isso acontece antes mesmo de você conseguir racionalizar.
Essas reações são biológicas e universais. Todos nós sentimos medo, tristeza, alegria, raiva, nojo e surpresa. E sentimos rápido — como se o corpo quisesse nos proteger ou preparar para agir.
Sentimento: a história que você constrói, é o que faz sentido
Já os sentimentos são como ecos mais profundos da emoção. Eles surgem quando começamos a pensar sobre o que sentimos.
A emoção vem primeiro; o sentimento, depois.
Por exemplo: você sente raiva (emoção) ao ser interrompido em uma reunião. Mais tarde, essa raiva pode se transformar em frustração, mágoa ou até vergonha (sentimentos), dependendo da forma como você interpretou a situação.
Segundo o neurocientista António Damásio, as emoções são respostas biológicas, mas os sentimentos são experiências mentais — resultado da interpretação que o cérebro faz dessas emoções.
Por que isso é importante?
Saber diferenciar emoção de sentimento pode evitar conflitos, mal-entendidos e sofrimentos desnecessários.
Quantas vezes reagimos por impulso, movidos por uma emoção passageira, e depois nos arrependemos? Quantas vezes alimentamos sentimentos que não foram devidamente compreendidos — e que acabaram moldando negativamente nossas relações e escolhas?
Identificar corretamente uma emoção imediata, como o medo paralisante ou a raiva intensa, e diferenciá-la de um sentimento construído, como a tristeza persistente ou o amor amadurecido, pode contribuir para pausas reflexivas que promovem ações mais conscientes.
Em vez de sermos arrastados pelas emoções, podemos aprender a escutá-las e, assim, conduzir nossos sentimentos.
Dicas práticas: como se conectar melhor com o que você sente
- Dê nome à emoção. Está com raiva, medo, vergonha? Comece por reconhecer e nomear.
- Pergunte-se: de onde isso vem? É algo do agora ou carrega histórias antigas?
- Espere antes de agir. Emoções são passageiras; sentimentos podem ser duradouros. Dê tempo para entender.
- Escreva. Colocar no papel o que você está sentindo pode ajudar a clarear pensamentos.
- Converse com alguém de confiança. Falar sobre o que sente ajuda a reorganizar internamente aquilo que parece confuso.
Desenvolver essa consciência emocional é parte essencial da inteligência emocional — uma habilidade que impacta diretamente nossa qualidade de vida, nossos relacionamentos e nossa saúde mental.
Conclusão: sentir é inevitável. Mas entender o que sentimos é uma escolha.
A vida é feita de momentos intensos. E é natural que emoções apareçam de forma repentina — afinal, elas são parte de nossa natureza.
Mas cultivar a consciência sobre o que sentimos, e como isso nos afeta, é o que nos torna mais preparados para viver com equilíbrio, compaixão e maturidade emocional.
O coração sente rápido, sim. Mas cabe à mente escolher o que vai guardar e por quanto tempo.

Gestora pública, ex-secretária de Assistência Social e de Saúde em São Mateus. Líder cristã há 14 anos, palestrante de casais, estudante de Psicologia e pesquisadora em saúde mental. Atua com psicoterapia social no CAPS.